jueves, 30 de septiembre de 2010

"Si me tocan tus manos de azucena..."

si me tocan tus manos     de azucena
te compro un cascabel de mandolinas
me olvido   del orgullo y de la pena
y todo lo demás     ya     son pamplinas

líbrate de vergüenza       esa cadena
que cosas del amor   hace mezquinas
dame tus labios      y tu boca llena
un beso en la nariz      luego te inclinas...

adonde voy     no existe más que    entonces
no se sabe de pena      ni templanza
fuego     seda     humedad     temblor     ceguera
a un animal     que ya no piensa      alcanza

animales perdidos      barro     ce
de el verso      el cuerpo cede    el tiempo avanza

1 comentario:

  1. "ESTOU VIVO E ESCREVO SOL" / António Ramos Rosa (Faro, 1924- )


    A noite chega com todos os seus rebanhos...

    A noite chega com todos os seus rebanhos
    Uma cidade amadurece nas vertentes do crepúsculo
    Há um íman que nos atrai para o interior da montanha.
    Os navios deslizam nos estuários do vento.
    Alguma coisa ascende de uma região negra.
    Alguém escreve sobre os espelhos da sombra.
    A passageira da noite vacila como um ser silencioso.
    O último pássaro calou-se. As estrelas acenderam-se.
    As ondas adormeceram com as cores e as imagens.
    As portas subterrâneas têm perfumes silvestres.
    Que sedosa e fluida é a água desta noite!
    Dir-se-ia que as pedras entendem os meus passos.
    Alguém me habita como uma árvore ou um planeta.
    Estou perto e estou longe no coração do mundo.


    In "A Rosa Esquerda"(1991)

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    Estou vivo e escrevo sol

    Eu escrevo versos ao meio-dia
    e a morte ao sol é uma cabeleira
    que passa em fios frescos sobre a minha cara de vivo
    Estou vivo e escrevo sol

    Se as minhas lágrimas e os meus dentes cantam
    no vazio fresco
    é porque aboli todas as mentiras
    e não sou mais que este momento puro
    a coincidência perfeita
    no acto de escrever e sol

    A vertigem única da verdade em riste
    a nulidade de todas as próximas paragens
    navego para o cimo
    tombo na claridade simples
    e os objectos atiram suas faces
    e na minha língua o sol trepida

    Melhor que beber vinho é mais claro
    ser no olhar o próprio olhar
    a maraviha é este espaço aberto
    a rua
    um grito
    a grande toalha do silêncio verde

    In "Estou vivo e escrevo sol" (1966)

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